sábado, 13 de agosto de 2016

"A esperança é a arte de ser feliz sem a felicidade. " Berilo Neves

Hoje tinha me programado para ir a um evento, mas, com o frio da manhã, escolhi ficar em casa. Por alguns minutos fica ainda a indecisão na mente, vou ? Não vou? Porquê não fui? Tinha que ir? Tinha me programado para ir e não fui... O mesmo acontece quando o relógio toca de manhã, no horário programado para ir nadar, o "soneca"  do despertador apertado várias vezes, e no final, perder a hora para desfrutar de mais alguns momentos embaixo das cobertas quentes! Quando a mente acalma, e a "culpa" de não ter cumprido o roteiro do dia, o tempo dilata, e surgem outras coisas diferentes para fazer, e é como se o tempo parasse. Preciso aprender a silenciar a mente "mais rápido", para poder aproveitar esses momentos. Olhando aquele site que gosto, o das metáforas, eis que o texto da semana fala sobre isso. Como momentos em nossas vidas podem se eternizar. Um minuto se transformar em horas, uma semana numa expedição parece uma vida de tão intenso e bem aproveitado, um lanche da tarde com a família vira um longo dia muito bem aproveitado. Duas horas numa aula de dança se transformam em um dia delicioso. Quando me percebo nesses momentos, tenho a impressão de que o tempo conforme todos seguimos deixa de existir.... As 24 horas de um dia bem vivido transformam-se em muito mais que isso!


Metáfora da Semana


Metáfora da Semana 32, em 13 de Agosto de 2016

Um momento pode durar para sempre

Nossas férias no lago Michigan tinham terminado. Para evitar engarrafamentos na volta para casa, eu tinha acordado de madrugada para colocar no carro a parafernália dos nossos filhos, com idades de três a nove anos. Não era exatamente a minha ideia de diversão. Mas consegui o milagre de estar com tudo arrumado precisamente no horário que estipulara. Voltei ao chalé e encontrei minha mulher, Evie, acabando de varrer a areia do chão.
- São seis e meia, hora de partir - eu disse. - Onde estão as crianças?
Evie deixou a vassoura de lado.
- Deixei que fossem até a praia para se despedirem.
Balancei a cabeça, aborrecido, porque isso atrapalhava o meu horário cuidadosamente planejado. Por que, então, acordar tão cedo se não íamos conseguir estar na estrada antes que o tráfego ficasse insuportável? Afinal, as crianças já tinham passado duas ótimas semanas fazendo castelos de areia e passeando por toda a região do lago à procura de pedras mágicas. E hoje elas só tinham que relaxar no carro - ou dormir, se quisessem -, enquanto eu me encarregaria da longa volta para casa.
Abri a porta de tela, passei pela varanda. Encontrei meus quatro filhos na praia, depois das dunas suaves do terreno. Tinham tirado os sapatos e estavam andando na ponta dos pés na água, rindo e pulando cada vez que uma onda quebrava em suas pernas. O xis da questão era o quanto poderiam entrar no lago sem encharcar as roupas. Fiquei irritado ao lembrar que todas as roupas secas das crianças já estavam guardadas, sabe Deus onde, na mala entupida do carro.
Com a firmeza de um sargento, fiz uma concha com as mãos para gritar que fossem todos imediatamente para o carro. Mas, por algum motivo, as palavras de repreensão ficaram presas na garganta. O sol, ainda baixo no céu da manhã, desenhava uma silhueta dourada ao redor de cada uma das crianças, que brincavam. Elas só tinham aqueles momentos finais para espremer a última gota de felicidade do sol, da água e do céu.
Quanto mais eu olhava, mais a cena à minha frente adquiria uma aura mágica, pois jamais se repetiria novamente. Que mudanças podemos esperar em nossas vidas depois que se passar mais um ano, outros dez anos? A única realidade era aquele momento, a praia cintilante e as crianças - minhas crianças - com a luz do sol enfeitando seus cabelos, o som das risadas se misturando ao vento e às ondas.
"Por que eu cismara de ir embora às seis e meia da manhã, a ponto de sair correndo do chalé para brigar com eles?", me perguntei. Eu tinha em mente impor uma disciplina construtiva ou estava apenas com vontade de ralhar porque tinha um longo dia no volante pela frente? Afinal, não há prêmios a receber por partir exatamente na hora. E como poderia esperar manter a comunicação com meus filhos, agora e daqui a alguns anos, se não conseguisse manter viva a memória da minha própria juventude?
Na beira d'água, mais embaixo, minha filha mais velha fazia sinais para que me juntasse a eles. Então os outros começaram a acenar também, chamando por Evie e por mim, para nos divertirmos com eles. Hesitei, mas apenas por um instante. Corri, então, até o chalé para trazer minha mulher pela mão. Meio correndo, meio escorregando pelas dunas, logo chegamos à praia, jogando longe os sapatos. Numa alegre bravata, entramos na água além do ponto em que as crianças estavam, Evie segurando a saia e eu a bainha das calças. Até que o pé de Evie escorregou e ela afundou na água gritando e, de propósito, me puxou também.
Hoje, anos depois, ainda me emociono ao lembrar as risadas das crianças naquele dia - boas gargalhadas e um sentimento de camaradagem. E, muitas vezes, quando elas pensam em suas lembranças mais caras, aqueles poucos momentos ocorridos há tanto tempo estão entre as recordações mais preciosas.

Para quem quiser conhecer o Site: http://golfinho.com.br/metafora-da-semana.htm



                         Aconcagua 2016

São Bento do Sapucaí

Elbrus 2014

Teatro Bradesco realizando um dos muitos sonhos. Conhecer o grande ator de musical Saulo Vasconcelos.

Barbados

Aconcágua 2016

Pacaembu 

Laje de Santos 

Família!

Campo Base do Everest 2011

Kala Patar Nepal 2011

Sacre Coeur Paris

 

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O trem para a Cracóvia.

Fim de mais um dia de plantão num dos PSs que trabalho, uma segunda feira cheia, mas sempre com alguma lição para aprender além da prática da medicina. Dou me conta ao final do dia de como o planeta é pequeno. E como nosso Brasil é rico de gente de todas as partes. Em tempos onde o "Espírito Olímpico" paira pelos ares de todo o planeta e país, hoje atendi duas pessoas que me chamaram a atenção. A primeira um jovem, com a esposa. Não pude deixar de perguntar de onde eram com aquele sotaque espanhol que tanto gosto de ouvir. A vontade era falar com eles no seu idioma natal, mas como falavam bem o português acabei usando esse mesmo! Mas acabei perguntando de onde eram, com aquele sotaque, e eles me contaram que são peruanos e estão há 5 anos no Brasil, ele eletricista, torceu o joelho jogando futebol, e estava preocupado pois precisava retornar logo ao trabalho. Lembrei de minha viagem para fazer o Caminho Inca no Peru, lembrei-me dos amigos que fiz durante a viagem, e a riqueza da cultura daquela terra Inca. A sorte de ter como guia, um professor de História, que nos contou, num desabafo, que já não dava mais aulas pois os alunos não queriam saber de nada, e optou por contar suas histórias e as muitas de seus antepassados e da sua Terra para os turistas dos mais variados lugares do planeta que se aventuram pelas terras Incas. Foi minha primeira experiência em altitude... O caminho Inca! Voltando ao plantão... Algumas horas depois, não tem como mas para exercer a arte da Medicina, reparar e observar os diferentes sotaques e perfis das pessoas faz parte de um bom atendimento. Somo a isso a minha cuirosidade e vontade de conhecer novas culturas e pessoas, acabo sempre perguntando quando percebo algo diferente em algum paciente. Chamo a próxima da lista, uma senhora de 83 anos. Entra na sala alguém muito forte, falante, lúcida, com aquele português de Portugal, como o da Dona Maria da Padaria Flor de Mogi, amiga da minha avó. Acabei perguntando se a paciente era portuguesa. Ela com todo orgulho me respondeu "Sim e ainda parente de Cabral! ". Me contou toda a história do que a levou ao Pronto Socorro naquela tarde, uma queda uns dias antes, mas que só foi ao PS por muita insistência dos seus filhos de coração. Filhos de coração pois a Portuguesa disse com todas as letras que nunca quis ter filhos, não era essa a vontade dela, que cuidou de muita gente aqui, conseguiu sua própria casa,  faz tudo sozinha, já havia voltado para Portugal para rever familiares e se despedir de alguns irmãos, mas voltou, e que ela a mais velha, ainda continua viva. Mulher de traços fortes, bem resolvida, e eu fiquei imaginando se tinha entendido que era parente de Cabral mesmo. Acabei perguntando qual era o grau de parentesco, ainda fico confusa com a resposta, mas o que ficou ( parece que ficou ) claro é que por parte da mãe da Senhora, pelos meus cálculos, sua tataravó, era tia-avó do Cabral. Confuso? Mas as senhoras dessa cadeia hereditária viveram mais de 100 anos, então foi isso mesmo, fazendo uns cálculos,  o que eu entendi. Tudo isso para lembrar de como o mundo é pequeno! Fecho o post com um momento que veio à memória depois de conversar com esses dois pacientes. Estava eu na Polônia, no mochilão que fiz sozinha em Julho de 2011. Estava em Varsóvia, e ia pegar o trem para a Cracóvia, visitar locais da Segunda Guerra que tinha vontade de conhecer. Na Polônia, fora dos locais turísticos, poucas pessoas falam inglês, e fora os números que são os mesmos, as placas da cidade são todas no idioma local. O Polonês, o qual eu não sabia nada. Cheguei na estação bem antes do meu horário para não correr o risco de perder o trem. Fui ao guichê de passagens, e com um inglês precário a senhora que vendia passagens me explicou onde era a plataforma. Fui eu para lá aguardar meu trem. Era só olhar pelo horário. Dois trens, e a plataforma central. Sentei num banco e fiquei ali a esperar. Não estava preocupada, pois havia entendido que o trem saída da plataforma da esquerda, e era só olhar o horário no relógio. Aproximou-se então de mim, uma senhora grande, com sacolas, sentou-se ao meu lado no banco e começou a falar comigo... Falar muito!!!! Só um detalhe... Em Polonês.... Eu não entendia nada. Mas ela continuou a falar, e de repente começou a apontar o trem, gesticular, mostrar o relógio, e falar, gesticular. Eu somente sorria, e fazia um sim com a cabeça. Sem entender nada, percebi que a senhora parecia preocupada com o trem, ou comigo. Ela apontava o trem, e apontava para mim.  O trem dela chegou, ela foi embora falando polonês, e eu sorrindo, tentando de alguma forma passar para ela que estava tudo bem ali comigo, e que meu trem ainda não havia chegado. A senhora foi, logo depois meu trem chegou. Era o trem certo. Dividi a cabine com uma família que ia para a Cracóvia também. Cheguei bem ao meu destino. Bom... Como comecei, esse mundo é pequeno, estrangeiros que vem para perto de nós , nós que vamos ser estrangeiros em outras terras, eles aprendem nossa língua, nós aprendemos as deles, ou simplesmente estamos abertos para entender a linguagem universal, dos olhares e gestos. E assim percebo como o mundo é grandioso e pequeno! E como há muito o que aprender, conhecer e explorar.

 Centro Histórico de Varsóvia


 Estação Central de Varsóvia

 Estação Central de Varsóvia


 Chegando no destino esperado! Cracóvia


 Um capítulo triste na História da Humanidade


Centro Histórico da Cracóvia

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Reflexões sobre um abraço....

Começo dizendo que não sabia qual o melhor título para essa breve reflexão. Após 24 horas de plantão num PS, um pouco cansada e com a cabeça cheia de coisas para escolher e decidir para os próximos dias, lembrei-me de uma criança que atendi ontem. E depois dela, veio uma sequências de outras lembranças sobre crianças e abraços... Aí pensei se melhor seria um título como "A sinceridade das crianças" ou "Crianças e sua espontaneidade". Relatarei minhas reflexões sobre tudo isso e escolham o melhor título para cada um de vocês...
O poder de um abraço, ontem foi um plantão mais cheio que de costume para um domingo, e com muitos casos de maior complexidade, pacientes tumultuando, divergências entre alguns membros da equipe. Mesmo assim mantive a calma. Mas como todo ser humano, fiquei um pouco cansada. Eis que num determinado momento, chamo o próximo paciente e entra um menino de 5 anos, todo sorridente, e logo percebi que ele tinha algo diferente em seu comportamento. Não parava de se mexer, e sorrir, e não falava direito. A mãe não precisou me dizer nada, só olhando em seus olhos já entendi que era uma criança "especial". Fui perguntando para ele o que tinha acontecido, ele gesticulou, olhei bem nos seus olhos, ele sorriu, examinei seu dedo, tinha dor, mas não deixou de sorrir um minuto e me olhava bem nos olhos. Uma conexão ali se estabeleceu. Falei para ele que ia tirar uma "foto" do dedo e que depois o veria novamente, e ele sorridente foi fazer o RX. Na volta vi que tinha uma pequena alteração decorrente de trauma em ossos de crianças, expliquei para a mãe e para ele, e ele, sempre rindo, gesticulou como que perguntando se seria imobilizado. Eu disse que sim. Ele olhava para a mãe, ria, parecia satisfeito com o atendimento, eu achei engraçado... Ele veio chegando perto, e a mãe sem jeito falava "calma filho", mas não me incomodei, pelo contrário, aguardei para ver o que ele ia fazer. Crianças sempre surpreendem... Virei para ele e ele me deu um beijo no rosto e um forte abraço! E olhou para a mãe todo feliz, imprimi a receita, entreguei para ele e ele novamente veio em minha direção e deu outro abraço e um beijo no rosto, saindo do consultório todo feliz e a mãe também. Depois disso parece que o plantão, mesmo cheio, ficou calmo. Nada mais poderia tirar minha calma. Que figura. Ganhei meu dia. Lembro então que este ano no dia do abraço, não que eu tivesse me dado conta que era o dia do abraço na ocasião, num domingo de plantão no mesmo PS, outra criança , outro trauma, criança dessa vez muito quieta, uns 4 anos, com o pai, este também sem jeito e tímido. Quando disse ao pequeno menino que tudo estava bem, ele foi se aproximando, aproximando.... O pai querendo tirar ele de perto de mim sem saber como, e a criança se aproximando ... e me deu um abraço! Na hora fiquei sem jeito, mas sorri, agradeci, e quando liberei os dois do consultório me dei conta de que aquele domingo era o dia do abraço! Mais uma para finalizar a reflexão sobre o abraço... No final da minha última viagem para as montanhas, o Kilimanjaro, o grupo foi visitar um orfanato. Levamos doações para as crianças, um dos propósitos dessa expedição. Quando chegamos na porta do orfanato, e a porta da van onde o grupo estava se abriu, eu sentada na porta, um pequena menina, tinha lá seus 4 anos ou 5 anos, correu e pulou para dentro da van, e num abraço agarrou-se a mim e ficou por muito tempo no meu colo, sorrindo e feliz com a visita dos montanhistas recém chegados do cume do Kilimanjaro.
Bom... O poder de um abraço... A sinceridade das crianças. Ninguém pediu para fazerem o que fizeram. Simplesmente elas tiveram vontade e fizeram! E eu recebi o poder  e energia restauradores e de cura de seus abraços!  Não pude deixar de lembrar de abraços que recebi e distribuí por aí, na família, nos amigos, nos cumes das montanhas, nas aulas de dança e teatro, nas chegadas ou partidas... Por um mundo onde as pessoas sejam mais como as crianças. Sinceras, espontâneas e não tenham vergonha ou medo de demonstrarem seus sentimentos ao próximo.